“Entre integrantes da tribo Sateré-Mawé, existe um ritual inusitado que marca a passagem do adolescente para a fase adulta".
Os meninos são instigados a colocar a mão em uma luva de
palha trançada infestada de formigas tucandeira, e aguentá-las durante pelo
menos 10 minutos, enquanto todos os índios dançam ao redor em uma música em
língua local. Em seguida, a luva é repassada ao índio do lado (que também deve
aguentar os 10 minutos), e assim por diante, até passar por todos os
adolescentes que estão ingressando na vida adulta. Durante o ritual os
adolescentes ficam com suas mãos inchadas seguidos de vários efeitos, como febre, câimbra, vermelhidão nos olhos,
etc. O ritual prossegue com danças de roda por 11 horas. Para se tornar um
guerreiro, os jovens Sateré-Mawé devem passar por esse ritual 20 vezes.
Na véspera da festa, a tribo se reúne e localizam as formigas
que através de uma varinha, são forçadas a entrar num bambu chamado tum-tum. No
dia seguinte essas mesmas formigas, são colocadas num recipiente com água
misturada as folhas maceradas de cajueiro, que liberam um clorofórmio natural
que tem propriedades anestésicas. Intorpecidas, elas ficam sem reação e centenas
delas são fixadas pela cintura na trama da luva feita de folha de palmeira, com
o ferrão voltado para a face interna. As formigas despertam momentos antes do
ritual. As luvas utilizadas durante este ritual são tecidas em palha pintada
com jenipapo e adornadas com penas de arara e gavião.
A tocandira, também conhecida como tucandeira, é uma formiga
encontrada nas florestas tropicais brasileiras. Ela é facilmente reconhecida
pelo tamanho: com 2-3 cm de comprimento, é oito vezes maior do que uma saúva
operária. Sua picada é tão dolorosa que algumas pessoas dizem ser pior do que
um ferimento a bala. Esse fato lhe rendeu o nome de formiga bala em espanhol e
bullet ant em inglês (formiga bala na tradução literal). A formiga desenvolveu
essa arma como mecanismo de defesa. A dor lancinante leva o animal picado a
acreditar que levou uma lesão bem mais grave que uma ferroada de formiga e
acaba fugindo.
De fato, na comunidade sateré-mawé Y'Apyrehyt, sem qualquer
vínculo com o rito de iniciação, a ferroada de uma ou duas formigas tucandeiras
é usada para a cura de dores articulares e cólicas menstruais. E por ser
impossível precisar onde e quando esse ritual teve origem, seria inadequado
separar o componente social da utilidade médica, ambos unidos pelo conhecimento
historicamente acumulado desse povo. As ferroadas das formigas são também
utilizadas como método de tratamento para certos tipos de dor.
Sateré - quer dizer "lagarta de fogo", referência
ao clã mais importante dentre os que compõem esta sociedade, aquele que indica
tradicionalmente a linha sucessória dos chefes políticos. O segundo nome - Mawé
- quer dizer "papagaio inteligente e curioso".
A língua Sateré-Mawé integra o tronco lingüístico Tupi.
Segundo o etnógrafo Curt Nimuendaju (1948), ela difere do Guarani-Tupinambá. Os
pronomes concordam perfeitamente com a língua Curuaya-Munduruku, e a gramática,
ao que tudo indica, é tupi. O vocabulário mawé contém elementos completamente
estranhos ao Tupi, mas não pode ser relacionado a nenhuma outra família
lingüística. Desde o século XVIII, seu repertório incorporou numerosas palavras
da língua geral.
Os homens atualmente são bilíngües, falando o Sateré-Mawé e o
português, mas a maioria das mulheres, apesar de três séculos de contato com os
brancos, só fala a língua Sateré-Mawé.
Com informações e Fotos/ No Amazonas é Assim
Nenhum comentário:
Postar um comentário